(Foto: Divulgação/Facebook: Departamento de Matemática-UFPR)
Yuan Jinyun é professor titular do Departamento de Matemática na Universidade Federal do Paraná desde 1996. Membro vitalício da Academia Brasileira de Ciências e cidadão honorário de Curitiba, é reconhecido pelo ótimo trabalho na área das exatas, no qual recebeu diversos prêmios. Seguiu a carreira na pesquisa pela indução da vida, pois nasceu em uma comunidade rural na China.
A trajetória acadêmica
A carreira na área da Matemática não foi escolha própria. “O governo achou que eu tinha talento e capacidade de estudar matemática e pela lei tinha que obedecer”, explica Jinyun. Na China, ele morava na área rural e estava longe de tudo: “Era a primeira turma depois da revolução cultural. Nesta época as informações sobre tudo eram muito limitadas”, diz Jinyun.
Assim, com orientação do professor de matemática, prestou o vestibular chinês. Jinyun tinha quatro opções de cursos, arquitetura, um dos melhores do país; indústria de alimento, pois na adolescência sofria com a fome; medicina chinesa, para ajudar na saúde dos pais; e por último, licenciatura em matemática, para conseguir sair da vida rural. Com 88 pontos na prova de matemática, ele foi aceito para cursá-la no Instituto Tecnológico de Nanjing (atual Southeast University), uma das melhores universidades na China em Tecnologia.
Jinyun conta que o governo mandou ele trabalhar na área de engenharia elétrica, já que a matemática é elemento importante no desenvolvimento do país: “Naquela época, a vida pessoal era decidida pelo governo, não por interesse pessoal. O governo decidia as coisas pelo planejamento do país, baseado no talento e na capacidade de cada um”.
O trabalho exclusivo com a pesquisa, na área de campos eletromagnéticos computacionais veio em 1982, quando começou no Laboratório de Microondas e Antenas do Departamento de Engenharia Elétrica do Instituto Tecnológico de Nanjing. “Durante o trabalho senti a vontade de fazer pós-graduação, por necessidade de melhorar o rendimento familiar”, explica Jinyun.
Assim, resolveu fazer o mestrado para engenharia elétrica em 1986: “Mas o professor orientador queria que eu virasse escravo dele, não queria me aceitar como seu aluno. Como os chefes do departamento de Matemática conheciam meu trabalho, eles me aceitaram como aluno de mestrado com prioridade em Matemática Aplicada”, comenta Jinyun. O mestrado foi concluído em 1988, com sete artigos publicados.
A meta de fazer o doutorado veio em 1990, após trabalhar como professor no Departamento de Matemática, no Instituto Tecnológico de Nanjing. Jinyun relata que a proposta para fazer o doutorado em otimização no Brasil, veio do matemático Alfredo Iusem do Instituto de Matemática Pura e Aplicada (IMPA): “Decidi ir ao Brasil para fazer meu doutorado. Mas não consegui liberação da minha instituição, que não permitiu a demissão. O IMPA foi muito gentil e me deu uma carta de aceitação permanente. Com esta carta, gastei um ano para conseguir a liberação para sair da China com passaporte especial, que só pode ser uma saída”.
Após a conclusão do doutorado em 1993, Jinyun começou a trabalhar na UFPR como professor visitante e, em 1996, como professor titular no Departamento de Matemática, onde trabalha atualmente. Na UFPR, em conjunto com um grupo de professores, Alexandre Trovon, Carlos Henrique dos Santos, e Décio Kraus, implementou o curso de Matemática Industrial. Além disso, trabalhou na preparação do mestrado em Matemática Aplicada, em 2000, e o doutorado em Matemática e Matemática Aplicada, em 2010.
Segundo ele, quem segue na matemática e na pesquisa, deve duvidar de tudo com curiosidade e ter coragem de quebrar as regras. “O desenvolvimento do país e do povo depende da pesquisa e da ciência”, diz Jinyun.
Atualmente, é editor associado do Applied Mathematics and Computation, cujo fator de impacto é maior do que 3; editor associado do Computational and Applied Mathematics da Sociedade Brasileira de Matemática Aplicada e Computacional (SBMAC), membro do corpo editorial do Journal of Applied Mathematics e American Journal of Computational Mathematics; editor-chefe da Coleção de Matemática Aplicada e Computacional da Sociedade Brasileira de Matemática (SBM). Foi secretário regional da Sociedade Brasileira de Matemática; coordenador regional do Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada (IMPA), e coordenador do projeto de pesquisa da Companhia Paranaense de Energia (COPEL).
Com toda a sua dedicação na área da Matemática, Jinyun foi reconhecido e ganhou diversos prêmios. Foi o primeiro matemático a ganhar o Prêmio Paranaense de Ciência e Tecnologia, em 2004. Quatro anos depois, recebeu o título da Ordem Nacional de Mérito Científico pelo governo federal, como Comendador e, em 2018, como Grã Cruz. Além disso, foi eleito membro titular da Academia Brasileira de Ciências. “Os prêmios animam para trabalhar. Agradeço a comunidade que reconheceu minhas contribuições ao país. De fato, nunca pensei em ganhar tantas coisas”, diz Yuan.
A experiência na pandemia
Com a pandemia do novo coronavírus, a dependência da pesquisa e das ciências é grande. Jinyun deixa claro seu posicionamento: “Tem que investir na pesquisa de matemática, porque os modelos matemáticos ajudam nas ações de combate nesta pandemia. Políticos têm que escutar, respeitar e seguir os conselhos das ciências”.
Jinyun dá como exemplo o lançamento de 13 Centros Nacionais de Matemática Aplicada na China: “Como um médico brasileiro falou comigo hoje, a medicina é matemática”.
No início do ano, quando a China enfrentava os piores casos da COVID-19, Jinyun estava em território chinês. Para ele, a maneira como o país enfrentou o vírus foi diferente do Brasil, com o isolamento mais rigoroso, mapeamento e monitoramento do vírus. “Os políticos chineses respeitam os cientistas e seguem os conselhos deles. Acadêmicos na área de medicina dão orientações para povo, pois neste período só tem voz os acadêmicos”, comenta.
Jinyun relata que existe grande diferença entre os chineses e os brasileiros, o planejamento: “Todos os níveis do povo chinês, pobre, médio ou rico, tem planejamento familiar e sempre economizam certa quantia dinheiro para emergências. Acho que o brasileiro tem que aprender planejamento familiar e se preparar para situação emergencial”.