No dia 3 de dezembro, o professor Aldo José Gorgatti Zarbin, do Departamento de Química da Universidade Federal do Paraná, foi eleito como membro titular na Academia Brasileira de Ciências. Ela é uma entidade sem fins lucrativos e não governamental, fundada em 1916. Tem como objetivo o desenvolvimento científico do país.
Do interior de São Paulo, Zarbin foi estudar química a 200 quilômetros, na Unicamp, em Campinas em 1990. Lá cursou a graduação, o mestrado e o doutorado. Em 1998, começou a trajetória na Universidade Federal do Paraná como professor no Departamento de Química. É docente no Programa de Pós-Graduação em Química e é líder do Grupo de Química de Materiais (GQM).
Além disso, é membro da Sociedade Brasileira de Química (SBQ), Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Sociedade Brasileira de Pesquisa em Materiais (SBPMAT), American Chemical Society e Materials Research Society.
Ele tomará posse em maio de 2020 na classe de Ciências Químicas.
Qual é a importância da Academia Brasileira de Ciências?
A Academia Brasileira de Ciências é uma instituição extremamente respeitada, é centenária, uma instituição não governamental, é uma instituição que reúne uma nata da ciência brasileira para pensar o Brasil. Então você conseguir ter uma posição de cadeira permanente é uma grande honra, porque está relacionado com aspectos finais da carreira, e a importância na luta pela ciência e pela própria consolidação da ciência brasileira. É uma instituição que pensa o Brasil.
Por que ser membro da Academia Brasileira de Ciências?
O que significa ser membro da Academia? Significa que o seu trabalho foi reconhecido, que o seu trabalho entrou em um patamar que é reconhecido como uma coisa importante dentro da Ciência Brasileira. O simples fato de você fazer parte dessa sociedade significa que: olha, você está trabalhando direito. Veja a importância disso: tem alguém na UFPR, no Setor de Ciências Exatas, no Departamento de Química, no Programa de Pós-Graduação em Química que teve um reconhecimento a ponto de ser indicado e eleito membro da Academia Brasileira de Ciências.
E como você se sentiu ao ser eleito?
Minhas pernas tremeram (risos). Eu me senti muito feliz. Muito feliz mesmo. Sinceramente, não era uma coisa que eu esperava agora, acho que todo mundo que trabalha com ciência sonha um dia ser conhecido a ponto de ser eleito para a Academia Brasileira de Ciências. Mas eu não esperava que fosse agora. Acho que tem muita carreira pela frente ainda. Eu recebi a notícia, eu estava em um congresso em Boston, recebi a notícia por Whatsapp, e literalmente minhas pernas começaram a tremer. Na verdade, até agora a ficha não caiu (risos).
Quais são os próximos planos?
Continuar trabalhando, com a mesma dedicação, com o mesmo afinco, com a mesma paixão. Tenho muito tempo pela frente ainda. Veja, eu nunca vim trabalhar para ser membro da Academia Brasileira de Ciências. Eu fui eleito membro da academia porque estou fazendo meu trabalho bem feito. Então não é uma meta, as coisas vêm fruto do trabalho. Acho que a forma que eu estou fazendo as coisas está sendo direito. Então, continuar fazendo no mesmo ritmo, nem mais nem menos.
A ciência e a tecnologia
Qual é a importância da pesquisa e da ciência?
Ciência, tecnologia, educação, no Brasil são quase que indissociáveis. 95% da ciência brasileira vem de Universidades, vinculados a programas de Pós-Graduação, que é vinculado a educação de alto nível. E ciência e tecnologia correspondem a aspectos de soberania nacional. Então, a importância da ciência e tecnologia no país, para o país, é a importância da soberania desse país. Simples assim. Países muito desenvolvidos são países que aplicam muitos recursos, que investem recursos em ciência e tecnologia. A relação é direta. Não pense em ciência e tecnologia como uma coisa abstrata, ciência e tecnologia têm lá na ponta me dá soberania do país, faz a economia rodar, garante emprego, garante sustentabilidade, diminui desigualdade. E conhecimento, não importa qual seja. Então, o país que tem domínio científico, tecnológico, tem soberania. É um país forte, é um país que tem independência. Então é fundamental. É a luta mais importante que nós temos que ter.
Como você avalia o cenário atualmente?
O cenário agora é terrível. Aqueles que deveriam estar defendendo ciência, tecnologia, educação, não estão. E os recursos estão minguados e cada vez menores. Não se vê um horizonte muito melhor, pelo menos para 2020. Nos últimos anos, aí recentes, o investimento em ciência e tecnologia tem caído, caído, caído, diminuído, diminuído, diminuído. A gente está sobrevivendo assim, as bolsas de Pós-Graduação estão sem reajustes há muito tempo. Enfim, é uma pena. Está se fazendo hoje, com a ciência e a tecnologia o avesso do que se deveria fazer.
O que você aconselharia para quem quer seguir na área da pesquisa, da ciência e da tecnologia?
Em primeiro lugar, tem que ser apaixonado por isso. Não adianta querer tratar ciência e tecnologia como um emprego burocrático. Para você ser um bom cientista, para você se envolver fazendo ciência, tem que ser apaixonado por isso. A ciência exige muito de você e você tem que gostar dessa exigência. Porque no fundo é o seguinte, é um trabalho intelectual, você não bate ponto, você não vai embora e deixa, tá na sua cabeça. No fundo, a gente trabalha 24 horas por dia, o dia todo. E é isso que garante o sucesso. Eu sempre falo o seguinte, eu não acho que eu trabalho. Tem as partes chatas, as partes burocráticas, que as coisas poderiam ser mais fáceis. Mas o meu trabalho em si, eu me divirto. É uma coisa que eu gosto tanto de fazer que eu me divirto. O meu conselho para quem quer seguir essa carreira é o seguinte: seja apaixonado por isso.
por Carolina Calixto