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Mulheres pela Ciências Exatas: Elisa Orth é pesquisadora reconhecida internacionalmente por estudos sobre agrotóxicos

 
Conheça a professora do Departamento de Química que acaba de receber um prêmio internacional
 

Esse é o quarto prêmio que a pesquisadora recebe, que representa um ganho também para a UFPR (Foto: Arquivo pessoal)


A série “Mulheres pela Ciências Exatas” destacará a carreira de professoras do Setor de Ciências Exatas e o envolvimento delas na produção acadêmica dentro e fora da UFPR. A primeira reportagem é sobre Elisa Orth, professora, pesquisadora do Departamento de Química e coordenadora do Grupo de Catálise e Cinética. Além de seu trabalho dedicado na pesquisa da UFPR, Elisa tem reconhecimento internacional por seus estudos sobre maneiras de resolver problemas gerados em relação aos agrotóxicos. Em setembro, ela vai à Tailândia para receber o prêmio Green Chemistry for Life Research Grant, oferecido pela empresa PhosAgro, UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) e IUPAC (União Internacional de Química Pura e Aplicada).
 
Na infância Elisa já visitava laboratórios acompanhada pela mãe, bióloga, e o pai, agrônomo. Do espírito investigativo de um cientista ela já tinha um pouco. Porém, seu sonho de criança era mesmo estudar chimpanzés na África, assim como a primatóloga Jane Goodall, que pesquisou, ao longo de 40 anos, a vida social e familiar dos chimpanzés na Tanzânia. Foi no Ensino Médio que Elisa conheceu e se fascinou pela Química. Trabalhar em laboratórios, assim como aqueles que passeava quando criança nunca foi uma possibilidade tão real. Fez graduação, mestrado e doutorado em Química na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
 
Morar em Curitiba e trabalhar na UFPR foi a oportunidade que Elisa estava esperando. E chegou em 2012, depois do pós-doutorado que realizou na universidade. “Eu sempre quis dar aula em Curitiba, tenho uma ligação forte com a cidade. Então eu sabia que queria ser professora, sabia que queria ficar no Sul, e assim que surgiu o concurso na UFPR eu aproveitei”, relata. Desde então, assim como seus pais, é professora, pesquisadora e cientista, apaixonada pelo trabalho que realiza com os alunos na UFPR e dedicada em suas pesquisas, que renderam à ela quatro prêmios.
 
Prêmios
 
Na carreira acadêmica, Elisa já carrega em sua “bagagem” o Grande Prêmio Capes de Tese Milton Santos, na área de Engenharias, Ciências Exatas e da Terra e Multidisciplinar – Materiais e Biotecnologia, que recebeu no ano de 2012. Em 2015, ganhou o Prêmio Para Mulheres na Ciência, realizado pela L’Oréal Brasil em parceria com a UNESCO no Brasil e com a Academia Brasileira de Ciências (ABC). O reconhecimento internacional aconteceu em 2016 ao receber o Prêmio Rising Talents, da L’Oréal Fundation, ao lado de 15 pesquisadoras do mundo todo.
 
No panorama brasileiro, que é o maior consumidor de agrotóxicos do mundo, a importância da premiada pesquisa de Elisa fala por si só. Atualmente, 70% dos alimentos consumidos pelos brasileiros têm resíduos de agrotóxicos e 30% estão irregulares, segundo estudo desenvolvido pela Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) e Fundação Oswaldo Cruz. Além disso, está em tramitação na Câmara dos Deputados a PL 6.299/2002, que propõe alterações na atual legislação e amplia a lista de agrotóxicos disponíveis no mercado.
 
Elisa explica que o objetivo de sua pesquisa é o monitoramento e a destruição dos estoques/depósitos de agrotóxicos. Sendo assim: entender as reações químicas que podem tornar o produto menos nocivo para a saúde humana. O estudo não para dentro da universidade. A intenção é também criar mecanismos e dispositivos para que o consumidor, e até centros de distribuição de alimentos, possam monitorar a presença de agrotóxicos. “O que estamos tentando fazer é descobrir formas para que, ao lavar uma verdura possamos usar a água da lavagem e saber se há agrotóxico no alimento”, explica.
 
Neste ano, outra vertente da pesquisa de Elisa ganha um prêmio internacional. Em setembro, a professora receberá o Green Chemistry for Life Research Grant, cuja premiação será realizada durante o Congresso Mundial de Química Verde, promovido pela IUPAC. Na esteira da sustentabilidade, o estudo da pesquisadora consiste em encontrar alternativas para a destruição de agrotóxicos. Eis a ideia: usar o lixo agrícola, como por exemplo a casca do arroz, modificar e reutilizar para que seja utilizado nessa destruição.
 
A conquista do prêmio significa para Elisa o reconhecimento do seu trabalho. Erra quem pensa que somente a professora sairá ganhando. Pesquisadores e universidade a que estão vinculados, receberão um valor em dinheiro para o investimento na pesquisa premiada. Além disso, esse é um incentivo para toda a pesquisa na UFPR, principalmente aos alunos, que são parte do processo. “Receber um prêmio como esse é muito estimulante, tanto para mim, como para o meu grupo e para meus alunos. São eles quem fazem a pesquisa. Eu oriento e supervisiono, mas eles também se sentem privilegiados”, diz a pesquisadora.
 
O grupo a que Elisa se refere é o Grupo de Catálise e Cinética (GCC), da UFPR. Fazem parte da equipe quatro alunos de doutorado, três de mestrado e quatro estudantes de iniciação científica.
 
Mulheres pela ciência
 
“As portas estão abertas para as mulheres na produção científica, porém ainda há muitos entraves”. Essa é a opinião de Elisa sobre a representatividade feminina na ciência. No Brasil as mulheres representam 49% do número total de pesquisadores, segundo a Elsevier, editora de artigos científicos. No entanto, para a pesquisadora, os números podem ser desfavoráveis, pois as mulheres vão sumindo ao longo da carreira. Na Academia Brasileira de Ciências, por exemplo, dos 518 membros, 14% são mulheres.
 
“Podemos entrar na sala de aula e ver muitas meninas estudando. Mas ao subir a carreira, tendo status mais importante, dificilmente são mulheres as que aprovam projetos ou que desenvolvem projetos mais caros, que têm dinheiro para pesquisa e que são chamadas para falar na mídia sobre ciência”, defende Elisa.
 
São por estes motivos que a professora busca se envolver na temática. Há cinco anos participou do projeto “Meninas e jovens fazendo Ciências Exatas, Engenharia e Computação”. Ela e mais pesquisadoras iam à escolas para conversar com meninas, incentivá-las a conhecer e se interessar pela Ciências Exatas. O projeto acabou, porém Elisa não se deu por satisfeita e ainda hoje participa de eventos para falar sobre a atuação de mulheres na ciência. A pesquisadora destaca sua participação na última edição do Pint of Science, que aconteceu em Curitiba no mês de maio.
 
Realização
 
Diante da carreira que não está no começo, e muito menos no fim, Elisa reconhece o apoio que recebe do Setor de Ciências Exatas e da UFPR. Na participação de eventos, premiações e pesquisas, ela destaca o suporte da universidade. “É uma universidade que acha importante o papel da mulher, acha importante a pesquisa, acha importante o reconhecimento das aulas. Tudo o que eu faço é com muita paixão, e eu me sinto bastante realizada aqui dentro”.
 
Quando perguntada sobre os sonhos, a professora é taxativa: já está realizando. Por meio das pesquisas, aulas, contato com os alunos, Elisa conquistou aquilo que quis desde a infância: resolver problemas como cientista.
 
Por Maria Fernanda Mileski